A cumbuca de ouro
enviado por Marcio Rufino - Mediador cultural
conto de Silvio Romero extraído do livro Histórias de Tia Nastácia, de Monteiro Lobato
Eram dois vizinhos, um rico e outro pobre, que viviam turrando. O gosto do rico era pregar peças no pobre.
Certa vez o pobre foi à casa do rico propor um negócio. Queria que ele lhe arrendasse um pedaço de terra que servisse para a plantação duma roça de milho. O rico imediatamente pensou num pedaço de terra que não valia coisa nenhuma, tão ruim que nem formiga dava. Fez-se o negócio.
O pobre voltou para sua choupana e foi com sua mulher ver a tal terra. Lá chegados, descobriram uma cumbuca.
— Chi, mulher, esta cumbuca está cheia de moedas, venha ver!
— E de ouro! — disse a mulher. — Estamos arrumados!...
— Não — disse o marido, que era homem de muita honestidade. — A cumbuca não está em terra minha e portanto não me pertence. Meu dever é dar conta de tudo ao dono da propriedade.
E foi ter com o rico, ao qual contou tudo.
— Bem — disse este — nesse caso desmancho o negócio feito. Não posso arrendar terras que dão cumbucas de ouro.
O pobre voltou para sua choupana, e o rico foi correndo tomar posse da grande riqueza. Mas quando chegou lá só viu uma coisa: uma cumbuca cheia de vespas das mais terríveis.
— Ahn! — exclamou. — Aquele patife quis mangar comigo, mas vou pregar-lhe uma boa peça.
Botou a cumbuca de vespas num saco e encaminhou-se para a choupana do pobre.
— Ó compadre, feche a porta e deixe só meia janela aberta. Tenho um lindo presente para você.
O pobre fechou a porta, deixando só meia janela aberta. O rico, então, jogou lá dentro a cumbuca de vespas.
— Aí tem compadre, a cumbuca de moedas que você achou em minhas terras. Regale-se com o grande tesouro — e ficou a rir de não poder mais.
Mas assim que a cumbuca caiu no chão, as vespas se transformaram em moedas de ouro, que rolaram.
Lá de fora o rico ouviu o barulhinho e desconfiou. E disse: — Compadre, abra a porta, quero ver uma,coisa.Mas o pobre respondeu:
— Não caia nessa. Estou aqui que nem sei o que fazer com tantas vespas em cima. Não quero que elas ferrem o meu bom vizinho. Fuja, compadre!...
E foi assim que o pobre ficou rico e o rico ficou ridículo.
Um comentário:
Caro Rufino, esta história me diz que ser honesto é raridade e é um bem valioso.
Namastê!
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